O XIII Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância (Esud) e o II Congresso Internacional de Educação Superior a Distância (Ciesud) começam hoje, 12 de setembro. A abertura do evento, no Teatro Municipal, às 18h, terá palestras dos professores José Manuel Moran (USP) e Mirian Estela Nogueira Tavares (Universidade do Algarve). Moran conversou com a revista Quanta sobre o que ele chama "educação sem distância". Veja aqui trechos da entrevista, que será publicada na íntegra na próxima edição da publicação.
A programação do evento inclui palestras, mesas de debate, minicursos - presenciais e a distância - e comunicações orais. Os eventos são realizados pela Associação Universidade em Rede (UniRede), da qual a UFSJ faz parte e organiza esta edição, com o tema “Humanismo, Tecnologias e Políticas em EaD”. Clique aqui para conferir programação completa.
José Manuel Moran é uma dessas pessoas fantásticas que, em meio a uma série de cenários pessimistas, enxerga possibilidades de atuação. Defensor do que prefere chamar de educação “sem” distância e de modelos inovadores de ensino, o professor critica os modelos educacionais tradicionais e vê grades oportunidades nas novas ambiências digitais. Nascido em Vigo, na Espanha, Moran naturalizou-se brasileiro em 1988 e vive desde então no país que escolheu para seu lar. Graduado em Filosofia pela Faculdade Nossa Senhora Medianeira, fez Mestrado e Doutorado na Universidade de São Paulo. Aproveitamos a vinda do professor ao XIII Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância e ao II Congresso Internacional de Educação Superior a Distância para bater um papo sobre novas tecnologias e educação
QUANTA - Que contribuições a educação a distância traz para um país como o Brasil?
A educação a distância (prefiro “sem distância” ou on-line) é fundamental hoje, principalmente em cursos de longa duração. Num país tão diversificado, complexo e carente como o Brasil, a educação sem distância de qualidade é um caminho viável de inclusão de mais pessoas, para que sejam mais autônomas, criativas e empreendedoras. A educação como um todo utiliza recursos, metodologias e tecnologias digitais de forma cada vez mais explícita e significativa, compondo projetos pedagógicos que se combinam entre o blended (com diferentes graus de presença físico-digital) e o on-line (totalmente digital). Há modelos pedagógicos diferentes, dependendo dos objetivos, etapas de formação, modelos de organização (de grande escala ou não). Predominam hoje os modelos planejados previamente, que oferecem vídeos, textos atraentes, com links, quizzes, discussões, produção e avaliação em tempos certos.
Q- Quais os maiores desafios que a educação “sem distância” enfrenta?
O grande desafio é combinar qualidade com quantidade, planejamento pedagógico estruturado e flexível, atender a muitos ao mesmo tempo e conseguir que cada um encontre sentido e relevância, podendo personalizar ao máximo o processo de aprender. Não é fácil, mas há um movimento forte de busca de ecossistemas de aprendizagem que ofereçam as melhores alternativas (blended/on-line) para as necessidades de cada pessoa. Prevalecerão, no médio prazo, as instituições que realmente apostem na educação com projetos pedagógicos atualizados, metodologias atraentes, professores e tutores bons, materiais muito interessantes e com inteligência nos sistemas (plataformas adaptativas) para ajudar os alunos na maior parte de suas necessidades, reduzindo o número de horas de tutoria, mas com profissionais mais capacitados para gerenciar atividades de aprendizagem complexas e desafiadoras. É possível hoje oferecer propostas mais personalizadas, monitorando-as, avaliando-as em tempo real, o que não era viável na educação a distância mais massiva ou convencional.
Q - Um conceito que tem sido cada vez mais falado é o de Metodologias Ativas. Qual é a implicação prática desse conceito para o ensino superior e de que maneiras as novas tecnologias podem facilitar a sua aplicação?
As instituições educacionais que nos mostram novos caminhos estão mudando para modelos ativos, mais centrados, em que os estudantes aprendam desenvolvendo competências cognitivas e socioemocionais a partir de problemas reais, projetos, desafios relevantes, simulações, jogos e materiais gamificados, construção de histórias, de programação, combinando tempos individuais e tempos coletivos; aula invertida, projetos pessoais de aprendizagem e projetos em grupo. Combinam três processos de forma equilibrada: a aprendizagem personalizada (em que cada um pode aprender o básico por si mesmo - aprendizagem prévia, aula invertida); a aprendizagem com diferentes grupos (aprendizagem entre pares, em redes) e a aprendizagem mediada por pessoas mais experientes (professores, orientadores, mentores). O modelo mais interessante e promissor de utilização de tecnologias é o de concentrar, no ambiente virtual, o que é informação básica e, em sala de aula, atividades mais criativas e supervisionadas. É o que se chama de aula invertida ou flipped learning. A combinação de aprendizagem por desafios, problemas reais, jogos, com a aula invertida é muito importante para que os alunos aprendam fazendo, aprendam juntos e aprendam, também, no seu próprio ritmo.
Q - Nesse modelo, qual o papel do educador?
Essa combinação é decisiva para valorizar mais o papel do professor como gestor de processos ricos de aprendizagens significativas, e não o de um simples repassador de informações. Se mudarmos a mentalidade dos docentes para serem mediadores, poderão utilizar os recursos próximos, tecnologias simples, como os que estão no celular, uma câmera para ilustrar, um programa gratuito para juntar as imagens e contar com elas histórias interessantes e os alunos serem autores, protagonistas do seu processo de aprender. Isso tornará o processo de ensinar e aprender muito mais ativo, criativo, autônomo e participativo.
Publicada em 12/09/2016
Fonte: ASCOM